quarta-feira, 23 de março de 2011

Sobre os Venenos


Discordo da sabedoria popular ao que ela diz sobre o efeito venenoso da língua humana.

Atribuindo a cada parte de nosso corpo uma arma, à língua caberia o punhal, pois fica embainhado, só esperando pelo momento de ser sacado e utilizado para o bem ou para o mal, pode ferir, pode salvar, pode cortar, pode simplesmente cutucar, causando do dano mais leve e sutil ao mais mortal, pode ser sem cega alguma, só para adornar, ou afiado a ponto de não temer qualquer superfície. O seu portador, sabendo fazer bom uso pode causar uma morte lenta e dolorosa, ou instantânea. Mas não estou aqui pra falar de punhais, dissertarei sobre venenos, provavelmente a mais antiga das armas.

Continuando no processo de comparação, o veneno, caro leitor, caberia a que parte de nosso corpo? Podes adivinhar? Acertou aqueles que disseram o olhar!

Sim o olhar, o mais sutil dos venenos, uma vez que tal artimanha não serve só para nos levar ao último suspiro de nossas vidas, mas também para causar angústia, dormência, topor, alterações de consciência, excitação...

Sendo conhecedor das suas variadas formas de uso, como doses e tempo de administração, o utilizador pode obter efeito imediato, dependendo da intenção tem efeito gradativo, aos mais desavisados tem efeito retardado, somente aos mais resistentes, ou insensíveis, não surtirá efeito algum...

Aos inimigos doses de cianureto, de acordo com a dose e tempo de exposição vai do levemente tóxico ao letal; aos indiferentes veneno de serpente, causador do frio; aos amores extrato de beladona, age no coração, causa calores, dilata as pupilas, dá palpitações. Só não os recomendo para o mau, pois é preciso saber que se não houver cuidado em sua manipulação pode-se acabar provando do próprio veneno.

Mas, como o uso dos venenos caiu em desuso, parece que o dos olhares segue a mesma vertente, infelizmente. Estamos cada vez mais impessoais, usamos e abusamos cada vez menos da presença das pessoas e cada vez mais da tecnologia, não sabemos aproveitar os momentos que estamos na presença de alguém, são sempre conversas rápidas sobre nada. Não há olhares, não há toques (a esse atribuo as armas de eletrochoque, de ação imediata, podem causar paralisia, seu efeito fica marcado na memória e ainda há estudos sobre mortes ocasionadas por seu uso).

Diante disso faço um apelo: Reaprendamos a utilizar nosso arsenal para que possamos combater da melhor forma nosso bom combate, assim não perdemos oportunidades que nos surgem por não saber como lutar por elas, talvez aí estejam trechos do tão buscado caminho para a felicidade.


Belo Horizonte, 23 de março de 2011

12 comentários:

  1. Hello, Rô,

    Estou aqui... Já prontinha para reaprender a utilizar tal arsenal. Tenho -no exato momento- a necessidade de ganhar alguns combates,kkkk! Não quero meu caminho para a felicidade fragmentado. Mas, como reaprender? Se fores ministrar curso ou palestras sobre o assunto, saibas que sou a primeira inscrita, tá?!?!

    Falei sobre mim, porque seu texto... Seus textos nascem perfeitos.

    Bj enorme

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  2. Oi Rô!
    Parabéns pelos seus textos!
    As mensagens que voce traz em cada um deles sao perfeitas!

    Parabéns!
    E acho que esse esta sendo o meu preferido!

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  3. Confesso que não tinha parado para pensar que os venenos podem ser bons numa perspectiva positiva, e muito menos que a troca de olhares e de toques podem ser "trechos do tão buscado caminho para a felicidade".

    Fico aqui refletindo a respeito, aprendendo com a reflexão, e parabenizando-o pelo dom da escrita. Amplexos!

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  4. Li, ainda não ministro palestras, e por enquanto não tenho propostas para tal, preciso também encontrar o meu caminho da felicidade antes disso, vai ver se trata de um eterno caminhar rs. Mas pode deixar eu estou aqui na torcida esperando que vença seus combates kkk. Ah sim quanto aos meus textos, em nada superam os seus.

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  5. Ká, fico feliz por acompanhar minhas escrivinhações, mas como disse Rubem Alves dia desses, literatura não é uma coisa que serve pra criar outras coisas, e como tal, não tem função prática, assim como um brinquedo, que também não é uma ferramenta de criação, logo sua função é divertir e dar prazer...

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  6. Vlw Ed, obrigado pelo comentário.
    Pois é mooos, como disse alguém que não lembro quem, a diferença entre o veneno e o remédio está na dose, talvez doses homeopáticas de "veneno" não faça tão mal assim rs.
    Seja bem vindo e volte sempre!

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  7. Disse e repito: você é um Alquimista das letras.Manipula seus venenos pra que nosso corpo paralize e mente viaje por "mares nunca dantes navegados", onde encontramos valores há muito esquecidos. Foi assim que me senti. Obrigada Camões, digo, meu sobrinho!

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  8. Rô, você é um Alquimista e eu sou jurássica. Desculpe por esculhambar seu blog.
    Bjão!

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  9. Camões!? Pra chegar lá ainda tenho que comer muito arroz com feijão, regado à metáforas, estribilhos, rimas, versos, estrofes e sonetos de sobremesa rs
    Ah não se preocupa não, já "arrumei" o blog, nem fez bagunça direito! rsrs

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  10. "Mãe, me bata... Mas não me olhe assim".
    Viajei no tempo.
    Filho, sou suspeita em falar sobre o que escreves. Sou sua fâ nº 01 e lhe dedico um eterno amor ágape.
    Continue a brincar com as letras dando-lhes formas, cheiros, cores e gostos "nunca dantes experimentados" Kkkk
    Te AMMMMMMMMOOOOOOOOO!!!

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  11. Rô, querido!!!
    Saudades d+ de você!!!
    Que poderia eu dizer sobre seus brilhantes textos? Bom saber que a humanidade ainda tem salvação kkkk. Que num século meio carente de qualidade, existe você!!! Como disse certa vez um amigo (rsrs) e ousando parafraseá-lo: "Os escritores que me perdoem mas conteúdo é fundamental"!!! Te adoro!!!

    Mais uma vez você mostra que é mesmo "filho da mãe" kkkkk !!!

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  12. Mãe, Eliane, Dalila e Ivone,
    por trás de bons texto existem grandes referências e influências, sem as suas eles não seriam possíveis, sou que lhes agradeço!

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